Texto e foto: Rogério França
Com o seu projeto quase concluído, Rui Gonçalves admite ter outra visão a respeito da morte
Baseado no livro As Intermitências da Morte, de José Saramago, dois alunos do curso de Jornalismo da Faculdade Maurício de Nassau decidiram abordar a morte como tema do seu projeto de conclusão de curso. O escritor português relata em sua fábula, um período em que o óbito resolveu suspender suas atividades em um determinado País. Inicialmente, a reação dos habitantes daquele lugar foi de euforia, pois dessa forma todos passariam a ter vida eterna. Mas, ninguém contava com os transtornos que a falta de falecimento causaria à população.
Inspirados no livro, os estudantes Rui Gonçalves da Luz e Nathália Ferraz decidiram fazer um caderno especial com essa personagem e o grande mercado que ela movimenta. O início da apuração foi definido com base nos conflitos apontados por Saramago, caso nosso organismo resolvesse manter seus sinais vitais para sempre. Segundo a narrativa do escritor, a política, economia e a religião, seriam as áreas mais afetadas. No texto, enquanto pessoas de outros lugares se interessavam pela idéia de não precisar depender da ressurreição, alguns habitantes daquela Nação desejavam alcançar a fronteira para assim, recuperar o direito de poder morrer um dia.
“Sou leitor de Saramago e foi lendo As intermitências da Morte que me surgiu essa idéia. A Faculdade exige temas inéditos e interessantes para o TCC e eu apostei que este assunto atenderia as exigências. Sugeri a leitura para Nathália e resolvemos levar o projeto adiante”, afirma Rui.
A reportagem terá cerca de vinte páginas, onde a morte será apresentada como uma forma de controle social, indispensável para manter a ordem das coisas. O texto apresentará, de maneira natural, quem são as pessoas que lidam diretamente com o encerramento da vida: peritos, auxiliar de necrotério, médicos, entre outros- e como eles percebem-a de forma diferente. Mostra, ainda, sua forte presença em todas as religiões, ou seja, sem a morte não haveria religião.
Por outro lado, todos temem falar sobre esse assunto. Isso, de certa forma, dificultou a apuração que durou cerca de oito meses. “A maior dificuldade foram as fontes oficiais. Há um grande interesse em esconder informações. Há verdadeiros cartéis envolvendo funerárias, hospitais e outras instituições, mas isso é só um projeto, não devo fugir do meu propósito. O mais importante é que estamos concluindo e faremos sua defesa no dia 13 de dezembro”, comemora ansioso.